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05

RITA

Demorei uns trinta minutos no banheiro, precisava chorar, colocar pra fora tudo o que estava entalado. Eu mal podia acreditar que estava entrando no ciclo de novo, a minha vida inteira foi assim, o caminho já é tão familiar que é até estranho quando demora muito pra acontecer.

 

Mas, eu estava cansada! Não aguentava mais viver assim nessa roda gigante da vida, com altos e baixos. Dessa vez eu não vou contar pra ninguém, a última vez as meninas se deram mal por minha culpa. A água descia sobre a minha cabeça, enquanto eu viajava naqueles momentos de fúria, eu podia sentir todos aqueles sentimentos enquanto eu quebrava o escritório da última amante do meu pai, lembro detalhadamente do prazer em escrever com tinta na parede dele tudo o que ela significava pra mim. Mas, não adiantou, o que eu fiz não mudou o fato de ela ter ligado pra minha mãe e ter falado todos aqueles absurdos. Só de lembrar que quase perdi a minha mãe por causa daquela mulher, eu ainda lembro o cheiro da sala do hospital, do sentimento de encontrá-la desacordada no banheiro. Eu não resisti, e na minha cabeça eu tinha que ter me vingado. Um ano, o meu pai só esperou um ano pra aprontar de novo... Eu me sentia fraca, não queria enfrentar tudo novamente.

 

Desliguei o chuveiro e me preparei pra conversar com a minha mãe, eu não queria me envolver, porque eu não conseguia me controlar... Cada vez minha reação era pior. Eu me afundava mais e mais, nem o fato de lembrar das coisas que aprendi na Igreja estavam me ajudando a me livrar dos sentimentos que me invadiam quando eu entrava em casa.

Ela precisava se importar mais comigo do que se vingar do papai e da sua amante. Encostei a cabeça na porta ao segurar a maçaneta, meu coração apertado de tanta angústia. Rodei a maçaneta e me preparei para o fim do silêncio, para a minha surpresa o único som que ouvi foi o da televisão. Fui até a sala e me deparei com uma cena corriqueira pra mim, a minha mãe jogada, desmaiada de tanto beber. Fui até ela e peguei as garrafas de vinho, levei até a cozinha enquanto lágrimas desciam do meu rosto.

 

“Deus, me perdoa por não saber lidar com isso! Eu não consigo, os sentimentos borbulham dentro de mim. São mais fortes que eu, estou sufocada aqui dentro, me sinto outra pessoa dentro dessa casa, não vou suportar viver essa vida dupla, mas eu não quero afundar ninguém comigo. Eu preciso enfrentar sozinha, não posso fazer o Petter abandonar os estudos dele pra vir aqui lidar com essa situação que já conhecemos tão bem. Ela nunca vai deixar o meu pai e ele nunca vai parar de fazer o que ele faz! Me perdoa Deus!”

 

Nem pensei em levá-la para o quarto, não queria que ela acordasse e decidisse ir para a casa da tal Kendra. Deixei a porta do quarto aberta com medo dela fazer alguma besteira quando acordasse. Nem troquei de roupa também, do jeito que eu estava, me joguei na cama e chorei até apagar.

 

-

- Bom dia, querida! – acordei ao sentir a mão da minha mãe passando no meu rosto. Abri os olhos e me deparei com uma Margot diferente da de ontem. Mas, eu já conhecia a fase dessa Margot, sorri de volta, pois em meu coração eu desejava que essa Margot ficasse.

 

- Bom dia, mãe! – Respondi ao beijar a sua mão. Como eu a amava, eu não suportava vê-la sofrendo. Ela é tão linda, merece ser feliz, eu não entendo porque ela se submete a essa vida.

- Preparei um café delicioso pra nós duas. Quero te pedir perdão por ontem, eu perdi o controle, não vai mais acontecer, dessa vez vai ser diferente. Vamos viver algo direferente minha linda! Eu já arrumei as malas do seu pai, se ele não me quer mais, eu vou ter que entender e continuar com a minha vida.

 

Limpei a lágrima que rolou de seu olho esquerdo com o meu dedo e a abracei. Ela respirou fundo e pediu que eu me vestisse pra tomarmos café. Se levantou e fechou a porta ao sair, provavelmente pra chorar. Ela estava cheirosa, tinha tomado banho e lavado o cabelo.

 

Assim que cheguei na sala pude sentir o cheiro delicioso de ovos mexidos com bacon. Ah, como eu amava a minha mãe em seu estado normal. Entrei na cozinha e a mesa estava impecável, ela usou o jogo americano que costumamos usar em ocasiões especiais.

 

— Wow, tudo lindo e com um cheiro maravilhoso! — indaguei ao sentar na mesa.

 

— Hoje é um dia especial pra nós duas, vamos aprender a viver sem os homens da casa. De agora em diante só temos uma a outra. — ela finalizou servindo uma xícara de café pra mim.

 

— Pode contar comigo! — dei uma piscadinha acompanhada de um sorriso. Dentro de mim um clamor ecoava pedindo a Deus que realmente fosse assim de agora em diante.

 

— Porque eu não aguento mais o seu pai, ano após ano é a mesma história acompanhado da mesma desculpa. — ela respirou fundo pra continuar e eu decidi que a última coisa que eu queria era falar sobre meu pai e os seus problemas, em uma coragem inevitável ergui a mão para interrompê-la.

 

— Mãe, preciso de um conselho urgente! — abaixei a mão e olhei dentro dos olhos arregalados de minha mãe que estava sem entender aquela mudança súbita.

 

— Okay, pode falar...— ela me encarou profundamente ao colocar a faca que ela estava usando pra colocar manteiga no croissant sobre o prato.

 

— Eu fui convidada pra tomar sorvete por um amigo do John e eu disse sim. — sempre bom jogar o nome do John na jogada, pois todas as mães gostam dele. — o problema que tenho é que acho que estou gostando dele, eu sei que o conheci ontem, mas ele é muito interessante e o meu coração não funciona direito quando converso com ele. — fechei um olho e com o outro examinei a sua reação. Vale dizer que este silêncio estava fazendo as minhas mãos suarem. Depois de alguns longos minutos ela gargalhou e disse:

 

— Ah,  não acredito! Agora que estava iniciando o clube das luluzinhas, você decide trazer um garoto pra história? Mas não é possível! Esqueça o plano de conquistar o mundo sozinhas, eu não posso resistir a sua primeira paquera, e claro ao seu primeiro encontro. Vamos me conte tudo e não me esconda nada! — Ela finalizou com uma gargalhada que foi interrompida quando ela mordeu o croissant. E foi assim que em um passo de mágica, eu tirei o assunto horrível do meu pai da jogada e contei pra ela sobre o Lucas.

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© Bethânia, meu amor! 

Livro de Ficção 

© 2019 Priscila Passoni

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